sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A BUSCA DE SIGNIFICADO



"O homem é fundamentalmente um ser em busca de um significado. Se existe alguma coisa que o possa preservar, mesmo nas mais extremas situações, é a consciência de que a vida tem um sentido, não obstante nem sempre imediato"
(O psicanalista Victor Frankl)

A profunda experiência de V.Frankl no campo de concentração de Auschwitz levou-o a ter como certo que cada pessoa é um ser único que pode reter uma última reserva de liberdade para tomar uma posição, ao menos, interior, mesmo sob as mais adversas circunstâncias. Nesta profunda dimensão do seu eu, nós sabemos que "não apenas somos, mas a cada momento devemos decidir o que seremos". "Quando somos despojados de tudo o que temos - família, amigos, influência, status e bens - ninguém nos pode tirar a liberdade de tomar a decisão do que nos devemos tornar, porque esta liberdade não é algo que possuímos, mas algo que somos. Por isso mesmo todo homem tem o poder e a liberdade de elevar-se acima do seu próprio eu e tornar-se um ser humano melhor.
É fundamental também para V.Frankl a certeza de ser a básica motivação para viver, não a busca de satisfações, poder ou riquezas materiais, mas o encontro de um significado. Aqueles podem apenas contribuir para o nosso bem estar, mas são simplesmente meios utilizados para atingir um fim, quando usados de forma significativa.
Será esta concepção sobre nós mesmos e sobre o lugar que ocupamos na vida que nos poderá ajudar a dar-lhe sentido, não obstante as tragédias pelas quais devamos passar. Essa concepção antropológica exige pois que estejamos convictos de que, além de nossas dimensões físicas e psicológicas, possuímos uma dimensão espiritual ou noética, especificamente humana (espiritual, não no sentido religioso, mas no de vida mental ou intelectual que supõe um princípio de acção transcendente à materialidade do ser). O homem, na sua integralidade, compreende as três dimensões, mas é a dimensão propriamente humana que permitirá à pessoa transcender a si mesma e fazer dos significados e valores uma parte fundamental da sua existência. Neste sentido, cada pessoa é um ser único, vivendo através de infinitos momentos únicos e insubstituíveis, cada um deles oferecendo um significado em potencial (isto é, aberto também para o futuro). Se reconhecermos este potencial e formos capazes de corresponder a eles, nossa vida terá um sentido e a conduziremos de forma responsável.


Para V.Frankl, unicamente quando nos elevamos à dimensão do espírito (mente) tornamo-nos um ser completo. A dimensão humana é a dimensão da liberdade: não a liberdade proveniente das condições, quer sejam elas biológicas, psicológicas ou sociológicas; nem a liberdade de alguma coisa, mas liberdade para alguma coisa, a liberdade de tomar uma atitude concernente às condições. E somente nos tornaremos seres humanos completos quando atingimos esta dimensão de liberdade. Somos prisioneiros da dimensão do corpo; somos conduzidos pela dimensão psiquico-afetiva, mas na dimensão do espírito somos livres. Nós não apenas existimos, mas podemos exercer influência sobre a nossa existência. Podemos não só decidir sobre que espécie de pessoas somos, mas que espécie de pessoa poderemos vir a ser. Dentro da dimensão noética somos nós que fazemos a escolha.


Ignorar a dimensão espiritual é reducionismo, e aí está a origem do nosso mal-estar, da sensação de vazio e de que a vida está desprovida de significado. O perigo de semelhante reducionismo nunca foi tão grande como agora. Frankl não nega que as forças biológicas, sociais e psicológicas exerçam grande influência sobre nós; mas, como declarou, "o homem é determinado, porém jamais pandeterminado". Sob as mais restritas circunstâncias, possuímos uma área na qual podemos determinar nossas acções, nossas experiências, ou no mínimo nossas atitudes, e esta liberdade de auto-determinação repousa em nosso domínio noético.


A liberdade oferece ao homem a oportunidade de mudar, de renunciar ao seu eu e inclusive de enfrentá-lo. Desta constatação pode-se tirar uma importante conclusão, de extensas consequências práticas que poderia ser formulada da seguinte maneira: "é fundamental admitir que, sob circunstâncias normais, o homem tem condições de resolver, por si mesmo, seus problemas de consciência e conflitos de valores e que a função da logoterapia consistirá simplesmente em ajudar o paciente a enxergá-los, reconhecendo não ser ele uma vítima indefesa da sua educação, do seu meio e dos seus impulsos interiores, mas que é capaz de resistir às suas influências como qualquer pessoa sadia o faz.
Entretanto, deve-se reconhecer também ser possível, em casos concretos, que os conflitos de valores ou a "frustração existencial"possam subjugar o indivíduo e conduzi-lo até à neurose".


Algumas obras de Viktor Frankl:
Psicoterapia e Sentido da Vida, Editora Quadrante, São Paulo
El Hombre en busca de Sentido, Herder, Barcelona, 1987
Ante el Vacio Existencial, Herder, Barcelona, 1984
A presença ignorada de Deus, Imago.Sinodal.Sulina, 1985

1 comentário:

Carocha disse...

Não conhecia o Victor Frankl,

Obrigada!